Quem você quer ser?
Uma reflexão sobre o estilo
Todo o talento de escrever não consiste senão na escolha das palavras, e definir um estilo próprio nem sempre é fácil, porque isso esbarra numa questão existencial: a de quem você quer ser.
Sim. Você lê um poema e começa a se perguntar por que ele funciona. Você se pergunta: «Por que essa palavra está aqui e não ali?», ou «Como o poeta obteve esse efeito sonoro?», etc.
O mesmo vale para a prosa. Não é muito mais divertido ler algo que se parece com uma conversa ao pé do ouvido?
Por um lado, você deve estar a serviço de quem você quer ser; por outro, de quem você acha que vai ler os seus textos.
Eu mesmo nunca leio nada que não vá me surpreender. Não adianta insistir.
Quando leio algo, quero ser agradado, instigado. Em suma, quero ser arrebatado.
Flaubert, mestre do estilo, se torturava para encontrar o jeito certo de dizer as coisas. Ele sabia que a boa prosa deve ser tão bela e musical quanto os bons versos. Por isso a escrita sempre foi uma luta, um tormento.
É por isso também que ele reclama: «Que diabo de estilo eu escolhi. Que desgraça são os temas simples!»
Não estou sugerindo que todos devem escrever como Flaubert.
Estou dizendo que se você escreve, é porque tem algo a dizer, e não há nada mais belo do que ver as palavras certas nos lugares certos.
Todo grande escritor já se sentiu de alguma forma insatisfeito com o próprio trabalho.
Eles passaram a vida tentando descobrir a própria voz – aquilo que chamamos de estilo.
Escrever bem, é claro, envolve alguma solidão. Além do mais, você tem de despir-se de duas amarras, que são o medo da crítica e o receio de se expor ao ridículo.
Naturalmente, esses medos se dissipam quando você descobre quem você é ou acha que é... quem você quer ser, quem gosta de ser.
Alberto da Cunha Melo tinha razão: «Escrevemos cada vez mais para um mundo cada vez menos».
Nossos textos, porém, hão de chegar às pessoas certas, onde quer que elas estejam.



Excelente!